13 de setembro de 2009

Onde Nascem as Rosas Selvagens

Amor, hoje eu descobri onde nascem as rosas selvagens. Era uma dúvida que eu tinha a algum tempo. Não uma daquelas dúvidas urgentes, que precisam muito serem respondidas. Desde que tu me deu aquelas flores, naquele parque, naquele dia, eu penso nisso. Os últimos dias têm sido muito felizes, e eu acho que tudo isso é sua culpa querida. Os últimos dias têm tido um brilho diferente, e eu me acho muito ingênuo por pensar assim. A cerveja quente que eu tomo tem um gosto diferente. A música de discos riscados que eu ouço tem um som diferente. É tudo uma idiotice, não sou um cara tão sonhador assim. É tudo uma idiotice, mas não consigo pensar de outro modo. Ontem nós andamos de mãos dadas, e se eu pudesse, não largaria dos teus dedos nunca. Quero te contar as mais lindas mentiras, já que é impossível viver só de verdades. Mentiras que façam as coisas parecem maiores e melhores do que são. Quero te abraçar com braços fortes, que te prendam e te esquentem nessas noites molhadas de Setembro. Quero te beijar com uma trilha sonora ao fundo, uma orquestra em nossa homenagem. Quero muitas coisas, mas tenho certeza de poucas.

Amor, hoje eu descobri onde nascem as rosas selvagens. Foi quando acordei. Abri os olhos e do meu peito brotava um buquê de rosas vermelhas, de espinhos grossos. Mas os espinhos não machucavam, nem as rosas me causavam estranheza. O peito transformado em jardim me parecia algo norma. Amor, hoje eu descobri onde nascem as rosas selvagens. Elas nascem de dentro dos apaixonados.

3 de setembro de 2009

I'm The Man Who Loves You


'If I could you know I would
Just hold your hand and you'd understand
I'm the man who loves you'

Wilco – I’m The Man Who Loves You


Bom, eu não saberia dizer com certeza o que eu estou tentando te falar. Eu falaria de um jeito tímido, olhando para os meus sapatos, tremendo a voz, com o coração querendo abrir o peito, querendo pular longe. Até que não é algo lá muito complicado, seriam poucas palavras. Mas eu não sei me explicar com pouco argumento, nunca soube. Eu penso em te dizer isso toda vez que eu passo por uma praça. Toda vez que eu olho pela janela e está ventando. Toda vez que eu me deito numa noite fria. Não faz muito sentido, mas nessas horas eu fico fazendo monólogos, e acho todos eles perfeitos. Mas acabo nunca sabendo o que te falar. Tu me desarma. Tudo que eu sempre achei de mim mesmo, muda quando sinto teus olhos em cima de mim. Toda minha autoconfiança, meu senso de humor cínico, meu ar blasé. Tudo que eu faço questão de ser, acaba não fazendo a menor diferença se eu te vejo sorrir. Eu seria outra pessoa só pra ver o teu sorriso. Talvez seja muito dramático, mas sempre fui assim, exagerado. Eu me perco quando estou contigo. As ruas que eu conheço, viram locais totalmente diferentes, levando a locais que eu não sabia que existiam. Tu me faz perder a concentração. Eu caminho contigo, sem direção e sem falar nada, tomando muito cuidado pra não parar de respirar. Eu forraria as paredes do meu quarto com pôsteres teus, com fotos tuas. Se isso é obsessivo, foda-se. Já tentei falar isso centenas de vezes, mas a voz trancava, arranhando a garganta, e eu falava qualquer banalidade, qualquer idiotice. E tu ria, não sei se por causa do que eu falei, ou se por causa da minha cara de idiota. Não posso evitar de parecer um retardado quando eu te encaro. Eu nunca sei o que tu sente mesmo. Não faço idéia do que se passa atrás desse teu rosto lindo. Me encho de dúvidas, o meu chão vira ar. O que não importa, pois tu acaba sempre me olhando de um jeito meigo, com pequenas rugas da testa, que me fazem perder a linha de raciocínio. E mesmo não sabendo como falar, eu quero falar. Por isso eu estou parado aqui agora. Na chuva, de noite, na frente do teu prédio. Eu quero gritar teu nome, te ver saindo no portão, pra segurar a tua mão, encher os pulmões de ar e dizer, com uma voz grave: Eu sou o cara que te ama.

1 de setembro de 2009

Eu Nunca Quis Sangrar Teu Coração

Os tênis entravam fundo na grama alta. Os sons de crianças brincando ao longe se misturavam com o vento que batia as folhas das árvores. Pensava que não seria feliz nunca. Sempre que as coisas se acertavam, sempre que tudo ia bem, ele dava um jeito de acabar com tudo. Devia ter algum mecanismo de auto-sabotagem, e isso lhe incomodava profundamente.
O pior é que se magoava e magoava aos outros, sem saber porque. Simplesmente fazia. Era assim desde sempre, e talvez fosse assim pra sempre. Às vezes, fazia esse tipo de coisa sem perceber, sem notar. Mas quando notava, vivia algumas noites péssimas, deitado num quarto escuro, gastando cds do Radiohead e do Joy Division. Noites de depressão, enfim.
Era um domingo meio cinzento, cheio de nuvens com formas abstratas, daquelas que os namorados se divertem tentando adivinhar o que significam. O parque estava cheio. Eram férias de inverno. De inferno, pra ele. Tinha feito tudo errado de novo. Suas fundas olheiras roxas denunciavam isso. Provavelmente tinha machucado muito ela. Se sentia um merda. Se sentia uma bomba-relógio. Agora andava, para ver se a vontade de chorar ia embora.
Ele era um cara emotivo. Apaixonado por tudo. Principalmente por ela. Mas não sabia lidar com isso, não sabia lidar com seus sentimentos. As coisas rodavam, nas suas mãos viravam facas, rasgando a todos que ele amava. O que sentia de bom acabava virando arma. Por isso andava sem rumo. Sentindo o vento gelado bater no rosto e invejando a felicidade alheia. É, o parque não tinha sido um bom lugar para pensar. Os casais sentados (todos perfeitamente felizes) nos bancos de pedra, lhe intimidavam. Pareciam gritar, perguntar porque ele não podia ser assim, igual a eles.
Achou que devia ir para algum lugar mais calmo. O que sentia era tão forte que ficava quase físico, deixando um gosto amargo na boca. Será que ia deixar de ser assim um dia? Será que quando “crescesse” ia aprender a viver sem machucar ninguém? Pensava que nunca ia ser o que se esperava dele. Pra piorar, a faculdade vinha como um fantasma. Outra assombração era a imagem dela. Ela que chorou na noite anterior (e por toda a noite), quando ele não soube explicar o porque queria terminar o namoro. Mas isso, nem ele sabia. Não conhecia os motivos. Amava ela mais que tudo. Poderia se jogar na frente de um trem, de cima de um penhasco, se ela assim quisesse. Podia mesmo, mas achava que não dava mais pra viver ao seu lado.
Chegou ao laguinho do parque. Estava vazio. Todo mundo resolveu ficar no sol, e o lago era uma parte bastante sombreada e afastada do parque. Haviam grandes e antigas árvores por ali, com corações e nomes de amantes riscados em seus troncos. Algumas dessas árvores (e inscrições) eram mais velhas do que ele. Ele que achou que devia se desculpar com ela. Amarrar as pontas soltas. Não queria seu ódio. Ou ainda pior: sua indiferença. Se ela começasse a ignora-lo, ignorar suas mensagens, ignorar seus recados, ignorar sua presença. Se ela o ignorasse, ele ia morrer um pouco mais por dentro. Talvez literalmente. Como se pudesse ficar ainda pior...
Com a presença dela na sua cabeça sempre, tirou os tênis vermelhos, as meias rasgadas. Colocou-os com cuidado ao seu lado. Dobrou a barra dos jeans até acima das canelas. Mergulhou os pés na água fria, e um tanto quanto suja. Mergulhou os pés na água e sentiu a vontade chorar se afastar um pouco. E isso era o mais perto que ele poderia chegar de um sorriso naquele dia.