24 de abril de 2011
And you can never quarantine your past
20 de janeiro de 2011
De Quando Eu Podia Vestir De Flores Teus Cabelos
Não é mesmo curioso, para não dizer estranho, que uma palavra jogada de qualquer modo sobre uma mesa, de almoço ou de bar, nos transporte no tempo como se esse não fosse nada e nos coloque numa situação já vivida e já aquietada, já presa numa gaiola de grades grossas que temos aqui dentro em algum lugar, não é mesmo curioso? Uma única palavra, que pode ser falada normalmente ou até mesmo sussurrada entre dentes, uma única palavra ou talvez um único nome, o que é ainda mais poderoso: o nome de alguém que passou e que por passar é passado, não estando mais presente no momento em que seu nome surge à tona de uma conversa banal. Ouvimos esse nome e o mastigamos em nossos ouvidos, talvez demorando ainda um pouco para sermos atingidos, talvez recebendo na hora os efeitos da flechada certeira. A conversa ao redor segue, e talvez já nem envolva mais aquele nome (ou palavra), mas nem prestamos atenção, pois já nos afundamos dentro de nós mesmos, indo até o fundo para catar as conchas das memórias. Os anos começam a correr e a girar ao nosso redor, as folhas arrancadas dos calendários pulam do chão onde foram atiradas e se colam novamente (é como rebobinar uma fita), quando nos damos conta já não se vê a mesa, de almoço ou de bar, nem as pessoas ao seu redor. Vemos aquilo que o nome (ou palavra) nos causou, o momento em que nos causou, talvez uma lembrança banal, mas significativa em cada colorido detalhe. Vemos aquele dia, tanto tempo antes do fim e mais tempo ainda antes de nos lembrarem seu nome, em que ela nos pediu para amarrar seus cabelos numa trança, e enfeitá-los com flores diversas, e nós fizemos, rindo, enquanto olhávamos, no espelho à sua frente, ela rindo também. Surgem de volta mais que as imagens, surgem os cheiros (o perfume dela borrifado pelo quarto), surgem as sensações (o cabelo dela liso e macio entre nossos dedos), surge toda uma vida que já não é mais, e que nós enterramos, conscientemente, não por ser ruim e sim por ser agradável demais. Mas, tão de repente quanto foi construído, esse castelo de memória se desfaz (as folhas do calendário de volta no chão) quando alguém na mesa, talvez a mesma pessoa que disse o nome (ou palavra), no chama e nos diz outra coisa qualquer, um comentário sobre o clima, talvez. Voltamos ao agora e é provável que não voltemos àquela cena enquanto não ouvirmos aquele nome de novo, atirado por sobre outra mesa. Não é mesmo curioso?
22 de novembro de 2010
Fragmento De Um Fim (De Noite)
Nós dançamos. A enormes caixas de som ressoam, no ritmo de alguma dessas músicas pop. Estamos suados e em silêncio, as luzes multicoloridas e piscantes nos envolvem, como uma névoa. Mal conseguimos manter nossos olhos abertos. Ela abaixa a cabeça, que balança ao sabor da música, e enlaça as mãos atrás da minha nuca. Sinto sua pele roçar contra a minha e me pergunto como deixamos as coisas morrerem desse jeito. Não sinto mais nada.
A música acaba e logo começa outra, que me parece exatamente igual. Acho engraçado não saber o nome de nada que tenha tocado nessa noite. Faz muito tempo que não ouço rádio, mesmo. Tem muitas coisas que não faço há muito tempo.
Digo qualquer coisa inaudível e vou me sentar na mesa, num canto escuro. Tomo um gole da cerveja choca. Então, enquanto acendo mais um cigarro, vejo, com o canto dos olhos, ela se aproximar. Se agacha e põe os lábios colados aos meus ouvidos.
- Então, o que a gente faz agora?
- Sei lá – respondo, segurando o cigarro entre os dentes. – A gente aproveita.
- Por que a gente muda tanto? – mais uma pergunta, naquele tom de voz único dela.
- Não saberia te dizer.
- É mesmo uma pena...
Ela se senta do meu lado e se cala, sutilmente. Sopro fumaça no ar e fico imaginando mil desenhos formados ali. Olho pro lado e a cabeça dela repousa, dormindo sobre meu ombro. Paz, então, em nós dois. Pena que só na superfície.
Adeus.
9 de novembro de 2010
Viagem À Lugar Algum
20 de outubro de 2010
Apenas Mudanças
MGMT
Ela muda o corte de cabelo, e o pinta de uma nova cor, mais clara, com algumas luzes. Vai ao shopping, compra roupas novas, arrisca com coisas que não usaria nunca, antes, e muda quase metade do guarda-roupa. Descobre uma cafeteria simpática, começa a frequentar toda semana, as vezes sozinha, as vezes não. Passa a usar alguns colares e pulseiras novas, com miçangas e pedrinhas coloridas, reminiscências de uma feira hippie. Para de fotografar, extermina as pretensões e se contenta com a câmera como hobbie. Faz mais uma nova melhor amiga de infância, troca confidências renovadas, estabelece novos laços de afeto.
Ele faz uma nova tatuagem, maior que a anterior, mais colorida que a anterior. Troca alguma cadeiras da faculdade, arrisca uma novas, abandona tantas outras. Passa a fumar também quando sóbrio, ao contrário dos hábitos e conceitos anteriores. Apaga, do computador e do Ipod, uma porção de músicas, discos pra nunca mais de ouvir. Em compensação, conhece tantos outros, vira fã de bandas nunca ouvidas antes. Vai a novas festas, alguma nem tão legais assim, mas não consegue mais ficar em casa.
E quando os amigos lhes perguntam “tudo bem?”, sorriem com todos os dentes bem brancos, dizem que sim, que está tudo tranqüilo.
Mentem.
Mentimos.