14 de setembro de 2010

Não Mais

es tan corto el amor, y es tan largo el olvido
Pablo Neruda

    Então é assim? Depois de tudo, é só isso que resta? Como pode um amor daqueles, um amor grande daquele jeito, um amor devotado em todas as suas mínimas e ínfimas ações, um amor de braços largos, feitos pra abraçar apertado, como pode um amor daqueles ter sido reduzido a esse quase nada? E aí nos esgueiramos, rasgando os joelhos, sangrando a carne, rastejamos por entre os escombros e os minúsculos estilhaços que restaram depois da implosão, procurando loucamente por alguma migalha, por menor que seja. E elas são pequenas sim, mas nos interessam, nos alimentamos dela, com toda a fome do nosso espírito, mas isso não nos sacia, porque é quase nada, e estávamos acostumado com o quase tudo, o quase maior amor do mundo, o quase beijo mais longo do mundo, o quase olhar mais sincero do mundo. A história quase sem final. Quase.

7 de setembro de 2010

Reflexos de Algo Perdido Pelo Caminho

    Não sente nada agora porque talvez já tenha sofrido demais. Mas amor não é isso mesmo? Algo avassalador, cujo silêncio de sua retirada deixa um vácuo dolorido e uma porção de poemas amargos?
    Sentado diante dela, empilha cinzas e garrafas sobre a mesa de madeira do velho barzinho. Brinca com o porta-copo colorido, precisa manter as mãos ocupadas, assim como mantém os olhos fugidios, freneticamente vasculhando o ambiente, tudo para evitar o rosto dela.
    Ela fala e fala, não para um só segundo, ele não ouve nem a metade, não para de formular suas teorias, escuta apenas fragmentos do discurso, farpas afiadas naquela voz conhecida, “...acho que a gente fez o certo...”, “...mas eu não to saindo a sério com ele, não é nada demais...”, “...nunca quis te magoar...”, “...eu acho que o amor nunca acaba, sabe...”.
    Não acaba mesmo, ele pensa. Nunca se extingue em seu próprio fim, sempre segue em frente, se transforma, primeiro em pesar, depois em saudade, em alguns casos vira amizade, em outros ódio. Também há aqueles que acabam em indiferença. E os que acabam dor infinita, enorme e sufocante dor. Mas acabar, não. Afinal, não é sempre amor mesmo que mude?
    “É, eu concordo contigo”
    “Sobre o quê?”
    “Esse lance do amor nunca acabar”
    “Mas eu nem tava mais falando disso”
    “Bom, eu concordo do mesmo jeito”
    Já não tinham conversado sobre isso antes? Talvez. Já conversaram sobre muitas coisas, algumas tão loucas e tão íntimas que isso constituía uma forma de pacto, uma união através da devotada divisão de pensamentos. Só que esses eram outros tempos. Não havia mais conversas. Apenas enormes blocos de monólogos e enormes blocos de silêncio, intercalados.
    “Eu tava falando que...”
    “Eu vou embora”
    “Como?”
    “To cansado, quero dormir. Depois eu te ligo, desculpa.”
    Antes de ouvir qualquer outra coisa, levanta e sai. Tem idéia para um novo poema, vai pela rua escura repetindo mentalmente os versos para não esquecer de nenhuma palavra. Não se sente de todo mal. Tristeza tem fim, no final das contas. Se for assim, talvez o amor também, quem sabe? Pode estar errado, como em tantas outras vezes. Precisa reavaliar algumas idéias.
    Por enquanto segue pensando do mesmo jeito, até o próximo porre ou até a próxima mulher. O que vier antes. Ou que for mais marcante.