Estamos todos completamente bêbados, sentados lado a lado em uma esquina velha do velho centro.
Somos esperançosos, somos jovens, enchemos mesas de garrafas e falamos sobre tudo, não sabendo nada. O céu dá a entender que o Sol não demora a vir, mas não nos abalamos, cruzamos o que resta da noite em busca de qualquer coisa que se esconda no escuro.
Temos o peito em brasa, nossas cicatrizes semi-abertas e a boca amarga de álcool e expecatativas, ansiosos por dias que destruam, desintegrem nossa rotina. Conversamos sobre o que foi e o que será, o que poderia ter sido se não fossemos novos demais. Porque ainda somos, embora nos apontem o dedo e nos acusem de adultos.
Nós bebemos e sentamos no chão, falamos sem parar, rimos e gritamos pra satisfazer algo de selvagem, algo que chora dentro de nós. E se essas ruas sujas, cobertas de copos e latas, de cheiro acre, se essas ruas nos parecem acolhedoras, não é por puro desleixo. Voltamos pra casa sob um sol preguiçoso, ainda fraco, nos abraçando, tropeçando nos pés e cadarços, pensando longe.
E nos decepcionamos e nos desanimamos e fazemos de tudo pra passar rápido essa sucessão de dias inúteis e inertes, onde tudo nos diz nada, onde rastejamos através da horas em busca de um acontecimento para nos agarrarmos, para nos fazer acordar sem essa vontade de dormir de novo. O sangue que faz o coração bater rápido e sem compasso, num ritmo próprio e quebrado, é o sangue que pinga de arranhões externos e internos.
Nós nos apoiamos nos ombros uns dos outros, nós servimos pra isso. Nós somos amigos. Ainda bem.
8 de abril de 2010
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