Estamos todos completamente bêbados, sentados lado a lado em uma esquina velha do velho centro.
Somos esperançosos, somos jovens, enchemos mesas de garrafas e falamos sobre tudo, não sabendo nada. O céu dá a entender que o Sol não demora a vir, mas não nos abalamos, cruzamos o que resta da noite em busca de qualquer coisa que se esconda no escuro.
Temos o peito em brasa, nossas cicatrizes semi-abertas e a boca amarga de álcool e expecatativas, ansiosos por dias que destruam, desintegrem nossa rotina. Conversamos sobre o que foi e o que será, o que poderia ter sido se não fossemos novos demais. Porque ainda somos, embora nos apontem o dedo e nos acusem de adultos.
Nós bebemos e sentamos no chão, falamos sem parar, rimos e gritamos pra satisfazer algo de selvagem, algo que chora dentro de nós. E se essas ruas sujas, cobertas de copos e latas, de cheiro acre, se essas ruas nos parecem acolhedoras, não é por puro desleixo. Voltamos pra casa sob um sol preguiçoso, ainda fraco, nos abraçando, tropeçando nos pés e cadarços, pensando longe.
E nos decepcionamos e nos desanimamos e fazemos de tudo pra passar rápido essa sucessão de dias inúteis e inertes, onde tudo nos diz nada, onde rastejamos através da horas em busca de um acontecimento para nos agarrarmos, para nos fazer acordar sem essa vontade de dormir de novo. O sangue que faz o coração bater rápido e sem compasso, num ritmo próprio e quebrado, é o sangue que pinga de arranhões externos e internos.
Nós nos apoiamos nos ombros uns dos outros, nós servimos pra isso. Nós somos amigos. Ainda bem.
8 de abril de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
teus textos são tão simples e sinceros, adorei.
ResponderExcluirpraticamente vi minha vida relatada neste post.
ResponderExcluirtoda vez que leio textos similares a esse, sinto vontade de excluir alguns parecidos que tenho. odeio reler a comparação que fazemos (você em seu texto) de expectativas, aspirações e gostos amargos..
ResponderExcluirah, para me "confortar" uso o que um escritor chamado Bukowski(Charles) disse algo parecido com "que tempos penosos foram aqueles anos. ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade"
Mas, é só um conforto para o que já é sentido. Não deixemos de viver a falta de tudo isso.
Bem legal.
ResponderExcluirMuito bom o texto cara!
ResponderExcluirÉ estranho mas vejo o Caio em cada suspiro poético teu. É formidavel!