7 de setembro de 2010

Reflexos de Algo Perdido Pelo Caminho

    Não sente nada agora porque talvez já tenha sofrido demais. Mas amor não é isso mesmo? Algo avassalador, cujo silêncio de sua retirada deixa um vácuo dolorido e uma porção de poemas amargos?
    Sentado diante dela, empilha cinzas e garrafas sobre a mesa de madeira do velho barzinho. Brinca com o porta-copo colorido, precisa manter as mãos ocupadas, assim como mantém os olhos fugidios, freneticamente vasculhando o ambiente, tudo para evitar o rosto dela.
    Ela fala e fala, não para um só segundo, ele não ouve nem a metade, não para de formular suas teorias, escuta apenas fragmentos do discurso, farpas afiadas naquela voz conhecida, “...acho que a gente fez o certo...”, “...mas eu não to saindo a sério com ele, não é nada demais...”, “...nunca quis te magoar...”, “...eu acho que o amor nunca acaba, sabe...”.
    Não acaba mesmo, ele pensa. Nunca se extingue em seu próprio fim, sempre segue em frente, se transforma, primeiro em pesar, depois em saudade, em alguns casos vira amizade, em outros ódio. Também há aqueles que acabam em indiferença. E os que acabam dor infinita, enorme e sufocante dor. Mas acabar, não. Afinal, não é sempre amor mesmo que mude?
    “É, eu concordo contigo”
    “Sobre o quê?”
    “Esse lance do amor nunca acabar”
    “Mas eu nem tava mais falando disso”
    “Bom, eu concordo do mesmo jeito”
    Já não tinham conversado sobre isso antes? Talvez. Já conversaram sobre muitas coisas, algumas tão loucas e tão íntimas que isso constituía uma forma de pacto, uma união através da devotada divisão de pensamentos. Só que esses eram outros tempos. Não havia mais conversas. Apenas enormes blocos de monólogos e enormes blocos de silêncio, intercalados.
    “Eu tava falando que...”
    “Eu vou embora”
    “Como?”
    “To cansado, quero dormir. Depois eu te ligo, desculpa.”
    Antes de ouvir qualquer outra coisa, levanta e sai. Tem idéia para um novo poema, vai pela rua escura repetindo mentalmente os versos para não esquecer de nenhuma palavra. Não se sente de todo mal. Tristeza tem fim, no final das contas. Se for assim, talvez o amor também, quem sabe? Pode estar errado, como em tantas outras vezes. Precisa reavaliar algumas idéias.
    Por enquanto segue pensando do mesmo jeito, até o próximo porre ou até a próxima mulher. O que vier antes. Ou que for mais marcante.

6 comentários:

  1. Olá Luis, obrigada por seguir o ''uma mente um universo''. Já te sigo também, quero poder ler seus escritos com calma.
    Seja sempre bem vindo.
    Até,
    Nicole C.

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  2. Vivi algo parecido exatamente hoje. Sabe, dessa vez eu não falei. Eu tinha falado demais, eu sempre falei demais. Fugimos da regra, dessa vez ele falou. Eram palavras que pra mim não faziam sentido nenhum. O amor se transformou, sinceramente eu ainda não sei em quê, mas ainda resta o desejo. E por mais que ainda restasse ele, eu fui embora e prometi nunca mais voltar.

    Adorei, adorei. Mesmo!
    Você escreve muito beem.. tô te seguindo querido. Voltarei sempre :*

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  3. "Por enquanto segue pensando do mesmo jeito, até o próximo porre ou até a próxima mulher. O que vier antes. Ou que for mais marcante."

    O foda é que sempre o porre é mais marcante!
    ahahahaha

    adorei o texto

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  4. Acho que vou ficar de ressaca depois desse texto. Embriaguei-me.
    Talvez talento e admiração sejam os únicos vícios que eu queira fomentar... E essas valsas vão ser a trilha sonora pros meus porres literários. Obrigada por me abrigar.

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