Essa cidade, com esse clima, essa chuva rala que cai por alguns minutos, para, recomeça, tudo isso só serve pra colocar os homens mais pra baixo, contornar o que já é escuro. A chuva de gotas pequenas, só serve pra umedecer as calçadas e os pensamentos. As nuvens pesadas, só servem pra enegrecer o céu e os humores. E eu aqui parado na porta aberta, vendo a água cair, me molhando um pouco, me deprimindo um muito.
Paro diante a janela e aproveito que ela está embaçada, desenho algumas formas onde só eu vejo sentido. Riscos, formas abstratas, formas furiosas, corações despedaçados, eu sempre gostei de desenhar corações, não sei porque. Um clima desses sempre me põe pra baixo, eu sempre me sinto um merda, reflito sobre os piores lados da minha vida. Olho pra trás e me vejo errando em muita coisa. Eu fudi com tudo. E por covardia, durante a minha vida toda eu nunca agi, eu apenas reajo. As coisas simplesmente acontecem e só aí eu decido o que fazer. Eu não tenho iniciativa, me falta algo pra poder meter o pé na porta, bater no peito, gritar pro mundo o que eu quero, do jeito que quero.
Nos últimos tempos eu joguei coisas foras justamente por isso. Perdi muito por deixar o tempo passar. Não vivi, eu apenas me arrastei pelos dias. Perdi muito por covardia, infantilidade, agora eu vejo isso claramente. E o mais melancólico é tudo isso se foi, não há maneira de voltar atrás. Inês é morta, e acho que um pedaço de mim também. Se ao menos pudesse esquecer a cor daqueles olhos... O pior são as coincidências, elas parecem conspirar contra mim. Eu resolvo olhar bem na hora em que acontecem coisas que eu não gostaria de ver. Entro em lugar no exato momento em que deveria me afastar ao máximo. Tudo que eu poderia querer agora era um ônibus pra me levar pra longe disso tudo, me separar desse amontoado de recordações agridoces (em parte amargas muito maiores que as doces), me dar uma nova chance. Uma chance, a primeira em muito tempo que eu não deixaria passar.
Ligo o som do quarto, deixo a música tocar no volume mais alto possível. Violões e letras depressivas, sempre. Deito na cama, olho pro infinito. Eu devia me entreter com algo, mas só consigo pensar e isso piora a minha situação. Toda essa carga de melancolia, o desgaste emocional que vira desgaste físico, é muito forte. Deve ser a maldita chuva fraca, e a noite escura também ajuda nisso. Por isso eu abro meus livros de poesia, passo os olhos por tudo e me detenho em Drummond: "Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo". Não que isso seja uma grande melhora, mas saber que não sou sozinho em minha melancolia ajuda a seguir em frente.Um homem não consegue nada só.
Mas a chuva não cansa de recomeçar...
21 de novembro de 2009
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Quando nasci, um anjo torto
ResponderExcluirdesses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida.
Prefiro os gaúchos ;3