Como uma espécie de alucinação ela invade meu quarto naquele ponto da madrugada onde a luz parece que nunca vai nascer.
Ela invade meus sonhos e se mistura aos elefantes de pernas longas e aos peixes que cospem tigres e aos relógios derretidos. Ela invade meus textos, me fazendo escrever sonetos confusos sobre amor e mulheres que já não pertencem a seus homens. Ela invade minhas memórias e acaba se infiltrando em épocas nas quais eu não a conhecia, aparece em lembranças onde não deveria estar, borra tudo, deixa meu passado cheio de desfoques.
Mesmo em braços de outras, estando em corpos de outras, a presença dela me sufoca, é próxima demais, sinto suas mãos a me puxar. Por mais que eu tente, e eu tento, buscar afastá-la através de mulheres diferentes, não adianta, ela se mostra um espírito onipresente e cabelos loiros eu acabo por enxergar como pretos, peles escuras se tornam absolutamente pálidas e olhos castanhos, eu os vejo verdes, tudo para moldar quem quer que esteja comigo de forma a lembrar ela e juro que se as chamo pelo nome errado, não é minha culpa, é mais forte que qualquer consciência, é a minha voz criando livre arbítrio para seguir aos domínios dela.
Não peço que voltes, não. Não que eu queria viver tudo de novo, que as mãos dela em meus cabelos façam faltam. Não que eu sinta algo ao ouvir sua música favorita.
Não que eu tenha saudades.
Lá é longe demais, lá onde ela está. Na verdade, nem sei mais onde é, só sei que é onde eu não chego pelos meus pés, como eu chegava antes. Notícias dela não me chegam desde muito tempo e da última conversa eu não iria conseguir lembrar sem muito esforço para isso.
Por isso não sei explicar o porque dela estar presente em cada acorde que sai do meu violão ou o porque dela ser a protagonista de todos filmes que vejo.
Não sei de muita coisa, mas acho que isso significa algo. Tenho certeza disso. E por agora, enquanto não descobrir o que é esse algo, só me resta saber viver essa ausência presente.
28 de maio de 2010
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*-*
ResponderExcluir(Eu detesto me decepcionar quando você diz que não se inspirou em nada, ou nada é familiar. Ainda assim, ainda que impessoalmente, o texto é lindo.) :3
acho que todo mundo sente essa, sei lá, saudade, às vezes. e arrisco dizer que é melhor ter do que sentir saudade do que ter só o vazio. curti o blog, vou seguir.
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