Já fomos um só. Mas o tempo passou e agora voltamos a ser
dois, cada um com seu respectivo par.
Terminou
sem motivo, mas sem mágoa. Não brigamos, nós nunca brigamos, nós apenas vimos
que tudo que um fazia acabava magoando o outro, e que continuar quando já não é
mais possível sorrir é besteira, é errado.
Nós nos falamos, não como antes,
claro, e nem frequentemente, mas com certa regularidade. Ela continua sendo um
assunto que me interessa, por vezes sinto uma súbita vontade de ir até o
telefone, saber como foi seu dia, o que fez, que pessoas conheceu. Interesse
demais, talvez... Mas sabe, não existem segundas intenções, pelo menos não
conscientes, sou feliz com quem eu vivo agora.
Eu gosto de, quando não há nada
pra fazer (e isso é freqüente), lembrar de tudo que já foi, de coisas que já
fiz em momentos que nunca acontecerão novamente, imortalizados em sua
singularidade. Pequenos detalhes que na hora não me interessavam são os que
mais brilham nas lembranças, e presentes bobos que recebi me trazem a sensação
de que me foi dado o mundo. Não sinto falta, não lembro com melancolia, o tempo
veio e deixou as memórias meio herméticas. Eu lembro e dou um pequeno sorriso,
mas já não consigo me emocionar. Talvez só um pouco, muito pouco, lá no fundo.
Pouco... É uma palavra que tem
estado em minha cabeça. Num outro desses dias tediosos pensei e vi que não há
ninguém que passou por mim, viveu um dia na minha vida, que não tenha deixado
um pouco de si mesmo no ambiente. Alguns deixaram mais que outros, claro.
Alguns deixaram apenas o mínimo, quase não se nota. Outros deixaram tanto que
parece que sempre tive aquilo, como se fosse uma herança de séculos atrás. Acho
que ela foi uma dessas pessoas. Eu seria outra pessoa se não tivesse a
conhecido. Mas também seria outra se não tivesse terminado. Melhor, pior? Não
sei, mas tudo se ajeitou, e acho que gostei do resultado.
As coisas vão em frente, a gente
se distancia, se aproxima de novo, e cada segundo algo muda em relação ao
anterior, e saber disso ajuda a suportar as eventuais e comuns dores e dúvidas
que nunca deixam de aparecer. Porque, ao contrário do que a gente gosta de
espalhar em nossas poesias adolescentes, a vida é bonita.
Ou talvez até nem seja, mas vale
a pena.
Aaah, que lindo, adorei demais esse. Frases impactantes no final, sempre.
ResponderExcluirMuito bonito, de verdade. Bonita perspectiva de se enxergar a situação, bonita forma de descrevê-la e passá-la adiante.
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