21 de janeiro de 2010

Daquilo Que Ficou


            Já fomos um só. Mas o tempo passou e agora voltamos a ser dois, cada um com seu respectivo par.
            Terminou sem motivo, mas sem mágoa. Não brigamos, nós nunca brigamos, nós apenas vimos que tudo que um fazia acabava magoando o outro, e que continuar quando já não é mais possível sorrir é besteira, é errado.
Nós nos falamos, não como antes, claro, e nem frequentemente, mas com certa regularidade. Ela continua sendo um assunto que me interessa, por vezes sinto uma súbita vontade de ir até o telefone, saber como foi seu dia, o que fez, que pessoas conheceu. Interesse demais, talvez... Mas sabe, não existem segundas intenções, pelo menos não conscientes, sou feliz com quem eu vivo agora.
Eu gosto de, quando não há nada pra fazer (e isso é freqüente), lembrar de tudo que já foi, de coisas que já fiz em momentos que nunca acontecerão novamente, imortalizados em sua singularidade. Pequenos detalhes que na hora não me interessavam são os que mais brilham nas lembranças, e presentes bobos que recebi me trazem a sensação de que me foi dado o mundo. Não sinto falta, não lembro com melancolia, o tempo veio e deixou as memórias meio herméticas. Eu lembro e dou um pequeno sorriso, mas já não consigo me emocionar. Talvez só um pouco, muito pouco, lá no fundo.
Pouco... É uma palavra que tem estado em minha cabeça. Num outro desses dias tediosos pensei e vi que não há ninguém que passou por mim, viveu um dia na minha vida, que não tenha deixado um pouco de si mesmo no ambiente. Alguns deixaram mais que outros, claro. Alguns deixaram apenas o mínimo, quase não se nota. Outros deixaram tanto que parece que sempre tive aquilo, como se fosse uma herança de séculos atrás. Acho que ela foi uma dessas pessoas. Eu seria outra pessoa se não tivesse a conhecido. Mas também seria outra se não tivesse terminado. Melhor, pior? Não sei, mas tudo se ajeitou, e acho que gostei do resultado.
As coisas vão em frente, a gente se distancia, se aproxima de novo, e cada segundo algo muda em relação ao anterior, e saber disso ajuda a suportar as eventuais e comuns dores e dúvidas que nunca deixam de aparecer. Porque, ao contrário do que a gente gosta de espalhar em nossas poesias adolescentes, a vida é bonita.
Ou talvez até nem seja, mas vale a pena.

2 comentários:

  1. Aaah, que lindo, adorei demais esse. Frases impactantes no final, sempre.

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  2. Muito bonito, de verdade. Bonita perspectiva de se enxergar a situação, bonita forma de descrevê-la e passá-la adiante.

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