Porto Alegre, 2 de Abril de 2007
Oi amor, o
que tu anda fazendo? Já fazem algumas semanas desde a última carta, eu fico
apreensivo... Onde tu foi não há telefone, internet, só nos restou o papel. Tu
foi pra longe, pra onde eu não posso te alcançar correndo, como fazia antes. A
vida aqui segue a mesma, exceto uma coisa, que junto das chuvas e das saudades,
é o motivo pelo qual te escrevo agora.
É possível
que tu não acredites. Eu mesmo não acreditaria se contassem, talvez nem mesmo
se me mostrassem, é muito além da minha compreensão. Na verdade, essa coisa
irreal, a tua ausência, essa primavera de flores grandes e coloridas, a saudade
da tua voz, tudo anda contribuindo para que eu me sinta num sonho, do qual
preciso desesperadamente acordar.
Essa coisa
começou faz pouco tempo, uns cinco dias, talvez mais. Não tenho certeza, ando
perdido. A primeira vez me assustou de maneira que cheguei a achar que estava
delirando. Mas logo depois aconteceu de novo. E de novo. E de novo. A
freqüência dos acontecimentos venceu meu ceticismo pela exaustão. Aprendi a
conviver com o absurdo, e agora toda a vez que uma delas vem, eu paro e ouço o
que tem a me dizer. Não acredito em suas palavras, mas acredito que estou
ouvindo-as.
Sinto
vontade de te perguntar se isso já lhe ocorreu. Não, provavelmente não.
Certamente não, mas sinto vontade de perguntar mesmo assim. Sinto falta de
saber coisas sobre a tua vida, mesmo as mais insignificantes. Acho que vou
perguntar a uma delas quando tu volta. Mas elas não devem saber, nem tu sabe...
Elas conhecem minhas dores e dúvidas e anseios e acho extremamente curioso me
envolver tanto com essas borboletas.
Elas
costumam vir no fim da tarde, quando estou sentado no quintal, perto do jardim.
Não é comum vir mais de uma por vez, mas isto já ocorreu. O normal (acho insano
usar a palavra “normal” quando falo sobre isso) é vir apenas uma delas, de cor
viva e quase fluorescente, voar em círculo perto da minha cabeça e acabar
pousando logo acima da minha orelha. Então ouço uma voz reverbando dentro do
meu ouvido, uma voz feminina, mas grave, que fala com um tom ao mesmo tempo
urgente e sábio. Cada borboleta possui uma voz diferente, embora elas se
assemelhem. Eu as deixo monologarem, sem interferir de qualquer modo. Me dão
conselhos. É freqüente me dizerem que tu já não me ama... Como falei, não
acredito em nada que dizem, mas não deixo de sentir o peito apertar. Não sei
porque, afinal são insetos, não há motivos pra me falarem essas coisas, embora
as falem diariamente.
Guria vem
logo que já não agüento acordar sem tem perspectivas de te ver. Diz-me, pro
favor, quando tu volta, até gosto de surpresas, mas quero preparar algo pra tua
chegada, e também acho que o sofrimento passa mais rápido (embora ainda
lentamente) se tem data certa para acabar. Ah, ia me esquecendo... fiz uma
música pra ti um dia desses. Eu gostei dela. As borboletas me falaram que ficou
boa, mas que tu não vai querer ouvir. Eu espero que vá. Paro a carta por aqui,
apesar de poder escrever livros pra ti, acho cartas longas enfadonhas. Te amo,
amor, faria de tudo pra arrancar essa distância que se infiltrou entre nós.
Ansiosamente
Daquele que te
espera...
Ainda bem que eu já voltei :3 haha
ResponderExcluirMas ficou lindo e triste também, de certa forma. Acho que ela foi pra nunca mais voltar...
ResponderExcluir