Nós dançamos. A enormes caixas de som ressoam, no ritmo de alguma dessas músicas pop. Estamos suados e em silêncio, as luzes multicoloridas e piscantes nos envolvem, como uma névoa. Mal conseguimos manter nossos olhos abertos. Ela abaixa a cabeça, que balança ao sabor da música, e enlaça as mãos atrás da minha nuca. Sinto sua pele roçar contra a minha e me pergunto como deixamos as coisas morrerem desse jeito. Não sinto mais nada.
A música acaba e logo começa outra, que me parece exatamente igual. Acho engraçado não saber o nome de nada que tenha tocado nessa noite. Faz muito tempo que não ouço rádio, mesmo. Tem muitas coisas que não faço há muito tempo.
Digo qualquer coisa inaudível e vou me sentar na mesa, num canto escuro. Tomo um gole da cerveja choca. Então, enquanto acendo mais um cigarro, vejo, com o canto dos olhos, ela se aproximar. Se agacha e põe os lábios colados aos meus ouvidos.
- Então, o que a gente faz agora?
- Sei lá – respondo, segurando o cigarro entre os dentes. – A gente aproveita.
- Por que a gente muda tanto? – mais uma pergunta, naquele tom de voz único dela.
- Não saberia te dizer.
- É mesmo uma pena...
Ela se senta do meu lado e se cala, sutilmente. Sopro fumaça no ar e fico imaginando mil desenhos formados ali. Olho pro lado e a cabeça dela repousa, dormindo sobre meu ombro. Paz, então, em nós dois. Pena que só na superfície.
Adeus.
Me comove a capacidade de citar momentos como o descrito em ambientes que deveriam estimular quase o oposto de tudo. Mas as figuras utilizadas comoveram-me a ponto de me fazer acreditar que uma coisa puxa a outra. Deixar de fazer coisas, cigarro, cerveja, meu Deus, quantas figuras amaldiçoadas! Tão doces e amargas à leitura deste texto.
ResponderExcluirSeus personagens sempre parecem a mesma pessoa. Todas as histórias parecem de uma mesma vida.
ResponderExcluir(São todos meio você.)
Li seu texto através da comunidade Escritores de Gaveta e, cara, gostei bastante dos textos. Gostei mesmo.
ResponderExcluirVirei com mais frequência.
se vai ao fundo é tormenta
ResponderExcluireu zapeei legal aqui. até li aquele comentário ali de cima que alega ser todos os seus personagens parecidos com você. Não o conheço, mas comigo é o mesmo. E não é senão a escrita uma forma de retrato? sou um blog aberto, cru e nu. 'Não fosse eu, jamais escreveria', sabe aquela coisa?
ResponderExcluirGostei do texto e vou seguir.
Um abraço.
Bonito. Deu uma vontade sutil de chorar no fim da história.. Nao sei porque. Gosto de vir aqui e ler suas palavras. Dá uma certa paz de que alguém compreende (:
ResponderExcluirBeijos, querido
olá!
ResponderExcluirestou movimentando um projeto para transformar a casa onde sua familia morou la no menino deus em um centro cultural, e estarei em porto alegre nesta semana. no sabado havera um evento no ocidente e seria maravilhoso ter vc com a gente. sera uma leitura de textos do caio.
escreva para o meu email, e me passe seu telefone pra gente conversar melhor.
grande abraço
Liana
liana.f@hotmail.com
Lindo texto.
ResponderExcluirPorque a mudança é a melhor parte do processo, feita essa em conjunto ou não.
ResponderExcluirE daí a necessidade do adeus no momento certo, que invariavelmente chega.
A tristeza revela escritores bem fodas mesmo, não é?...
ResponderExcluirSegui.