22 de novembro de 2010

Fragmento De Um Fim (De Noite)

Nós dançamos. A enormes caixas de som ressoam, no ritmo de alguma dessas músicas pop. Estamos suados e em silêncio, as luzes multicoloridas e piscantes nos envolvem, como uma névoa. Mal conseguimos manter nossos olhos abertos. Ela abaixa a cabeça, que balança ao sabor da música, e enlaça as mãos atrás da minha nuca. Sinto sua pele roçar contra a minha e me pergunto como deixamos as coisas morrerem desse jeito. Não sinto mais nada.

A música acaba e logo começa outra, que me parece exatamente igual. Acho engraçado não saber o nome de nada que tenha tocado nessa noite. Faz muito tempo que não ouço rádio, mesmo. Tem muitas coisas que não faço há muito tempo.

Digo qualquer coisa inaudível e vou me sentar na mesa, num canto escuro. Tomo um gole da cerveja choca. Então, enquanto acendo mais um cigarro, vejo, com o canto dos olhos, ela se aproximar. Se agacha e põe os lábios colados aos meus ouvidos.

- Então, o que a gente faz agora?

- Sei lá – respondo, segurando o cigarro entre os dentes. – A gente aproveita.

- Por que a gente muda tanto? – mais uma pergunta, naquele tom de voz único dela.

- Não saberia te dizer.

- É mesmo uma pena...

Ela se senta do meu lado e se cala, sutilmente. Sopro fumaça no ar e fico imaginando mil desenhos formados ali. Olho pro lado e a cabeça dela repousa, dormindo sobre meu ombro. Paz, então, em nós dois. Pena que só na superfície.

Adeus.

10 comentários:

  1. Me comove a capacidade de citar momentos como o descrito em ambientes que deveriam estimular quase o oposto de tudo. Mas as figuras utilizadas comoveram-me a ponto de me fazer acreditar que uma coisa puxa a outra. Deixar de fazer coisas, cigarro, cerveja, meu Deus, quantas figuras amaldiçoadas! Tão doces e amargas à leitura deste texto.

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  2. Seus personagens sempre parecem a mesma pessoa. Todas as histórias parecem de uma mesma vida.
    (São todos meio você.)

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  3. Li seu texto através da comunidade Escritores de Gaveta e, cara, gostei bastante dos textos. Gostei mesmo.

    Virei com mais frequência.

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  4. eu zapeei legal aqui. até li aquele comentário ali de cima que alega ser todos os seus personagens parecidos com você. Não o conheço, mas comigo é o mesmo. E não é senão a escrita uma forma de retrato? sou um blog aberto, cru e nu. 'Não fosse eu, jamais escreveria', sabe aquela coisa?
    Gostei do texto e vou seguir.
    Um abraço.

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  5. Bonito. Deu uma vontade sutil de chorar no fim da história.. Nao sei porque. Gosto de vir aqui e ler suas palavras. Dá uma certa paz de que alguém compreende (:

    Beijos, querido

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  6. olá!
    estou movimentando um projeto para transformar a casa onde sua familia morou la no menino deus em um centro cultural, e estarei em porto alegre nesta semana. no sabado havera um evento no ocidente e seria maravilhoso ter vc com a gente. sera uma leitura de textos do caio.
    escreva para o meu email, e me passe seu telefone pra gente conversar melhor.

    grande abraço

    Liana

    liana.f@hotmail.com

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  7. Porque a mudança é a melhor parte do processo, feita essa em conjunto ou não.
    E daí a necessidade do adeus no momento certo, que invariavelmente chega.

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  8. A tristeza revela escritores bem fodas mesmo, não é?...
    Segui.

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