29 de janeiro de 2010

Do Silêncio


- Clarissa?
- Oi, oi, sou eu.
- Reconheceu minha voz?
- Claro.
- Ah, eu quis te ligar pra dizer que gostei de ontem.
- ...
- Sabe, aquilo já faz tempinho e...
- Um ano e meio.
- É, faz tempo. E por isso, e por achar que já nos perdoamos, podemos voltar ao normal.
- Normal?
- É, normal, tu sabe.
- Não sei mesmo.
- Ah, eu tava...
- Olha, a gente não tem nada faz mais de ano, o nosso normal virou sermos apenas conhecidos. Desculpa falar assim, mas é verdade.
- ...
- Não me leva a mal mesmo, a gente já foi bem unido, era tudo muito bonito e tudo mais. Mas era, foi, passou. Não vou te dizer que ontem não foi bom, mas eu nem sei porque fizemos aquilo.
- Tu não acha que dá pra tentarmos de novo?
- Sinceramente, não.
- Mas porque?
- Porque a gente fez muita merda. A gente se magoou demais. Eu agi errado contigo, tu agiu comigo. Foi horrível, até parece que tu não lembra.
- ...
- Vai não age assim, tu sabe que eu to falando a verdade.
- É, pode ser, mas tu disse que tava tudo perdoado...
- Perdoado sim, esquecido nunca. Cortes cicatrizam, mas não tem o costume de desaparecer. Tu é um dos caras mais legais que eu conheço, a gente pode ser amigo. Certo?
- ...
- ...
- Acho que eu ainda te amo Clarissa.
- ...

O fone fica mudo.
E a música que enche o ambiente é triste e machuca e toca tão alto quanto possível. Os violinos choram, e só não são tão miseráveis quanto o homem que afunda na poltrona.
O homem que não chora, porque acha estar seco. Mas ele só acha.

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